Na caverna celeste cantam Quimeras feitas de desejo, Cantam guturais e estridentes Monstros apanhados pelo sonho… Todos eles eu vi sob as estrelas, Quando um cristalino cometa veio, Nosso céu rasgando ao meio. —Mas eu durmo junto ao vento, Farfalhando pensamentos. De um plano a outro eu voo Estreito em paredes de concha Que só … Continue lendo Na Caverna Celeste
poesia
Prometeu Ainda Acorrentado
Estrelas cadentes e luzes de santelmo Pressentem em sua efêmera existência Que a Espécie Humana é uma e a mesma, De matéria idêntica à fênix e o fogo-fátuo. A esperança de Prometeu aos homens, —A mínima chama que o poupa da insânia, Em seu martírio milenar, ápice do Cáucaso— Foi a humanidade fazer jus à … Continue lendo Prometeu Ainda Acorrentado
Quimeras (II)
sou a carne que habitamos o todo onde queimamos: junto ao corpo os sonhos dos muitos que já somos. todos nós quimeras da vida à nossa espera, tão longa e serpentina, e enganosa a sua língua: ela fala em labirinto com a voz do próprio abismo onde nós somos outros dentro do grito de todos.
Cristal
esses liquefeitos tempos vãos novamente correm sob a pele, o nosso abismo me compele vazando vozes de dor que são— ó noites, ardores! aonde vão? antes que o tempo os congele e mais ninguém por vocês vele, nem memória, nem corpo malsão… do abismo vem-me suave fala: o que as noites são, ambos fomos, e … Continue lendo Cristal
Siroco
Ó minha alma cor lazuli, Alma minha que se confunde No manto dourado em dunas… Meu corpo esqueceram puro, Um subterrâneo grão escuro Numa terra que é nenhuma... O eterno Siroco, apenas, me ouve: Sou a tênue palavra que ressoa Num resquício purpúreo, noturno… Fale de dentro, ó silêncio! Fale! antes que a alma suma, … Continue lendo Siroco
Estações (4 Tankas Japoneses)
1. Noite Primaveril em sonho acordei diante do rosto da amada— desde então acreditei na que, por falsa vigília, de sonho é chamada 2. Aurora Veranil nasce quantas vezes uma flor feita de sonho? assim, febrilmente, por noites, dias e meses poemas mil te componho 3. Tarde Outonal folhas perdem cor, nossos calores, ardor— sonhávamos … Continue lendo Estações (4 Tankas Japoneses)
Poesia
Na solidão e no silêncio de papel A música sente-se tão longe, tão perto, Perfume da memória, a pele do espectro. Alumbrado te vejo, num vislumbre te perdes: Clamor do dia—são trevas a olhos abertos, Ressequida tinta, e pele que a pele ressente: São páginas suspensas, são brancos desertos.
Jardim Disperso
Jade líquida, berço das carpas, Em ti se prende o meu reflexo, Em ti me cega a tua ausência. As rochas se elevam, porosas, Eu partilho sua uníssona mudez Ouvindo o que se chama existência. Gaivotas voam, cigarras cantam, Explode a flor, nervura em folhas, Sinto pelo aroma que já choveu. O bambu se dobra … Continue lendo Jardim Disperso
Via Láctea
as noites abrefecham em tuas pálpebras, nossa hora entre o nada e a eternidade: nessa concha cabe o oceano inteiro, mas goteja única gota contra a sede— mudando nosso pó em maleável argila, queimamos os corpos no forno da vida: na prece da matéria nossos dedos se unem, divino sopro fomenta o fogo, viramos vapor, … Continue lendo Via Láctea
Haicais 1 (Seda & Vazio)
suave queda acumulando nos galhos; flocos de neve **** de seda e vazio é sua trama perfeita— a teia d’aranha **** vespertina vênus— um desejo feito juntos, em silêncio **** dente-de-leão ao vento metade ausente **** ar primaveril, a mente da magnólia em branco **** flor incógnita, teu nome é o perfume ao vento