Certa vez um monge retirou-se do mundo assombrado, seguindo os passos de Bodhidharma, para uma caverna habitar. De costas para a entrada, tudo o que via era rocha e musgo e a própria sombra. Permaneceu assim em contemplação por noites e dias, tantos que seu número foi-se tornando irrelevante. De dia, olhava sua projeção na parede da caverna; de noite, sentia a escuridão na parede das pálpebras. Uma manhã nasceu em que o monge verdadeiramente viu a própria sombra, e no olho da sombra viu a sombra recôndita. Ele sentiu que todas as coisas, as rochas, o musgo, o zumbido, a chuva, a centopeia e a caverna eram também sua penumbra—e ela era em todas as coisas. Nesse dia iluminado, o monge desceu da caverna rumo ao mundo, enquanto que na caverna permaneceu impressa a sua sombra.
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